quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

GALO DURO

Autor: Graciliano Ramos

O galo está duro.

Mas tenho o que comer.

Sem nenhum perigo,

Me caso contigo,

Meu bem, mesmo sem poder.

 

E Deus dá o jeito

Pra gente viver!

 

Já falei com seu vigário,

Terno precisa não.

Montado na égua manca

Eu vou de camisa branca

E você com vestido de algodão,

 

Pois tudo é muito simples

No meio deste sertão.

 

Sua mãe dá a panela

E a minha dá o feijão.

Quando cair o anoitecer,

Somente para você

Vou tocar meu violão.

 

E a felicidade vai morar

Dentro do seu coração.

 

Bolo só de macaxeira,

Bebida tem alcatrão.

Ainda tem água no poço,

Já escuto o alvoroço

Das aves de arribação.

 

Sanfoneiro, puxa o fole,

Arrasta o pé no salão!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CANTANDO A ILHA MOQUEIO

 

Autor: Graciliano Ramos

Na Ilha do Moqueio

Eu quero te moquear

Rolando no teu seio

Em um belo passeio

Noite brisa beira-mar.

 

Na Baía-do-Sol

Eu quero te moquear

Na Ponta do Farol

Olhando o arrebol

Não me canso de te amar.

 

Lá em Carananduba

Eu quero te moquear

Minha deusa maluca

Deixa o meu na tua cumbuca

Antes de me levantar.

 

Na Praça da Matriz

Eu quero te moquear

Você é quem me diz

Que me faz tanto feliz

Na hora de me abraçar.

Na Estação Primeira

Eu quero te moquear

Não tem segunda nem terceira

Moça da rua da beira

À noite eu vou te buscar.

 

Nos Piratas da Ilha

Eu quero te moquear

Seguindo tua trilha

O teu beijo tem pastilha

De hortelã pra me adoçar.

 

Nos Peles-Vermelha

Eu quero te moquear

Teu bumbum cor-de-telha

Teu olhar de abelha

Quando avista um pomar.

 

Eu quero te moquear

Com todo o meu calor

Respirando este teu ar

No galope à beira-mar

Te envolvendo de amor.