sexta-feira, 8 de abril de 2011

VIDA DE PESCADOR

 

Autor: Graciliano Ramos

 

Saio do meu mocambo

Mais um dia rotineiro

Com meu remo no ombro

E a pele cor de morango

Por este sol brasileiro.

 

Sou pescador do Norte

No meio deste pampeiro

Minha pele muito forte

Desafia até a morte

Na proa deste veleiro.

 

Quem acha o peixe caro

É só ir para o mar pescar

Pegar ferrada de arraia

Dormir na beira da praia

Sentir o tombo do mar.

 

Chega a tempestade

Com chuva torrencial

O mar não tem piedade

Mas tenho felicidade

No meio deste caudal.

 

Lá vem a pororoca

Fenômeno natural

Passou pela Mocooca

No mar se desemboca

Revirando o manguezal.

 

Se tomo uma cachaça

Para me espertar

A cuia é minha taça

Do porronca sai a fumaça

Para o maruim se afastar.

 

Já pesquei no Amazonas

Conheci Jacques Cousteau

Passei pelas siripanas

Participei de várias façanhas

Conversa de pescador.

 

Ó Virgem Santa Padroeira

Um dia se Deus quiser

Me arranje outra brejeira

Daquele tipo faceira

Não me deixe sem mulher!