quarta-feira, 3 de agosto de 2011

AS PRAIAS DA ILHA

 

Autor: Graciliano Ramos

PRAIA DO AREIÃO

 

Na praia do Areião

Nós sentamos no chão

Para ver o Sol se pôr.

O vento zumbia

Fazendo maresia

Naquela tarde de amor.

 

PRAIA DO BISPO

 

Na praia do Bispo

És sempre meu tipo

Pela noite que cai.

Madrugada vazia

Fizemos o que devia

Lembrança que nunca sai.

 

PRAIA GRANDE

 

Na praia Grande

Nosso amor se expande

Cada dia mais e mais.

Passarinho que canta

Na linda tarde santa

Na beira do cais.

 

A PRAINHA

 

Eu vi na Prainha

Você de sainha

Catando caramujo.

Fiquei apreciando

As ondas chegando

Sem um tico de sujo.

 

PRAIA DO FAROL

 

Na praia do Farol

Você curte o arrebol

Do outro lado do mar.

Ao vento que sacode

Eu canto um lindo pagode

Só pra você dançar.

 

PRAIA DO CHAPÉU VIRADO

 

Do Chapéu Virado

Saí todo molhado

Segurei sua mão.

Fomos em frente

Da sua voz estridente

Escutei sua canção.

 

PRAIA DO PORTO ARTHUR

 

Porto Arthur a grande onda

Na areia se estronda

Quebrando o arrimo.

Reage a natureza

Com sua fortaleza

Contra o homem sem mimo.

 

PRAIA DO MURUBIRA

 

Na praia do Murubira

A multicor se estira

Por todo o calçadão.

Palco da Liberal

Faz o seu carnaval

Para a multidão.

 

PRAIA DO ARIRAMBA

 

Na praia do Ariramba

O Oliveira é bamba

Com seu pastelzinho.

Depois da tarde poente

A luz incandescente

Clareia nosso caminho.

 

PRAIA DO SÃO FRANCISCO

 

Na praia do São Francisco

Pobre médio e rico

Fazem parte da paisagem.

Fotos da maré mansa

Dessa praia que não me cansa

Eu carrego na bagagem.

 

PRAIA DO CARANANDUBA

 

Na praia do Carananduba

O vento diz uba

Na terra das caranãs.

Eu fico de tocaia

Na beira da praia

Para ver as jaçanãs.

 

PRAIA DO CARUARA

 

Na praia do Caruara

Não tem mais arara

Que ali sempre cantava.

Naquele alto torrão

Mora até alemão

Onde o caboclo morava.

 

PRAIA DO MARAHU

 

Na praia do Marahu

Tomei caldo de turu

Para resistir à viagem.

Vi os maçaricos correndo

Nas pedras se escondendo

Enfeitando a paisagem.

 

PRAIA DO PARAÍSO

 

Na praia do Paraíso

Vejo o simples sorriso

De um casal se amando.

A lua no céu clareia

Beijando a fina areia

E um açaizeiro acenando.

 

PRAIA DO PAISSANDU

 

Na praia do Paissandu

Vi um lindo corpo nu

De uma linda praieira.

Naquele elo perdido

De um mundo escondido

À sombra de uma palmeira.

 

PRAIA GRANDE DA BAÍA DO SOL

 

Na praia Grande

Sua beleza se expande

Por toda sua extensão.

O vento se rebela

Levanta a saia dela

Agitando meu coração.

 

PRAIA DO BACURI

 

Na praia do Bacuri

Alguém chegou por ali

E deu este nome frutigostoso.

Naquela parte frontal

Havia um bacurizal

Relembra alguém mais idoso.

 

PRAIA DA CAMBOINHA

 

Na praia da Camboinha

Currais de pedra ali tinha

Sistema de pescaria.

Ali os camboeiros

Despescavam os pesqueiros

Quer de noite quer de dia.

 

PRAIA DA FAZENDINHA

 

 

Na praia da Fazendinha

Ainda tem uma igrejinha

De São Sebastião.

O romeiro se apressa

Para pagar a promessa

Numa grande procissão!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

VIDA DE PESCADOR

 

Autor: Graciliano Ramos

 

Saio do meu mocambo

Mais um dia rotineiro

Com meu remo no ombro

E a pele cor de morango

Por este sol brasileiro.

 

Sou pescador do Norte

No meio deste pampeiro

Minha pele muito forte

Desafia até a morte

Na proa deste veleiro.

 

Quem acha o peixe caro

É só ir para o mar pescar

Pegar ferrada de arraia

Dormir na beira da praia

Sentir o tombo do mar.

 

Chega a tempestade

Com chuva torrencial

O mar não tem piedade

Mas tenho felicidade

No meio deste caudal.

 

Lá vem a pororoca

Fenômeno natural

Passou pela Mocooca

No mar se desemboca

Revirando o manguezal.

 

Se tomo uma cachaça

Para me espertar

A cuia é minha taça

Do porronca sai a fumaça

Para o maruim se afastar.

 

Já pesquei no Amazonas

Conheci Jacques Cousteau

Passei pelas siripanas

Participei de várias façanhas

Conversa de pescador.

 

Ó Virgem Santa Padroeira

Um dia se Deus quiser

Me arranje outra brejeira

Daquele tipo faceira

Não me deixe sem mulher!

quarta-feira, 23 de março de 2011

A NATUREZA DORME

Autor: Graciliano Ramos

Vejo a tarde sumindo;

É triste o seu andar.

A noite vai lhe engolindo

E o Sol a se amontanhar.

 

A Natureza dorme,

No seu habitat.

 

A arara grita o seu nome

E voa pra outro lugar.

A mãe-da-lua se some,

Depois começa a cantar.

 

É tão pequenina,

Mas faz tudo se acordar.

 

Ela chama a lua

Pra vir clarear.

Se esta mata é sua,

Por que lhe expulsar?

 

O mistério da noite

É de arrepiar!

 

Grita Mapinguari,

Capelobo quer se levantar.

A cunha faz qui... qui.. qui..

Mas seu lindo sorriso

Não é pra magoar.

 

Índio velho que se transformou

E não pode mais andar.

 

Pra subir a serra,

Pra rever o mar,

Ver a motosserra

Que vem devastar.

 

O velho quer guerra

Mas nem pode andar.

 

Pra ver aquela estrada

Que ali vai chegar.

A jovem índia estuprada

Vai se apavorar.

 

Barulho das máquinas

Vai se espalhar.

 

Homens com sacola

Vão querer ficar,

Deixando cacos de coca-cola

Para o povo se acidentar.

 

É o princípio do fim,

Tudo vai se acabar!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CANTANDO A ILHA: O AJURUZEIRO

Autor: Graciliano Ramos

O verão chegando,

Eu aqui te esperando

No mesmo ajuruzeiro.

Ah! Se esta árvore falasse

E ao mundo inteiro contasse

Que aqui fui teu primeiro...

 

Minha fera feminina

Com esse jeito de menina,

Mas adulta para amar.

Serpente morena,

Que me envenena

Na hora de me beijar.

 

Corpo-rio de segredo,

Eu não tenho medo

De por ele navegar.

Meu amor, minha sina,

Você nem imagina

O quanto eu quero te amar.

 

Na Estação Primeira,

Com fantasia de praieira,

Você foi desfilar.

Bumbum de pandeiro,

Que mexe o dia inteiro,

Com ele eu a sambar.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O COBRADOR

 

Autor: Graciliano Ramos

Rangeu a cancela

Não era meu amor

Pois quando abri a janela

Pensando que fosse ela

Era o maldito cobrador.

 

Não tem dinheiro

Depois lá eu vou

Chegou fevereiro

E o meu décimo terceiro

Minha Nega estourou.

 

Olha aqui seu Manuel

Com a minha indenização

Vou pagar o seu aluguel

Para limpar meu papel

E voltar pro Maranhão.

 

Se a Nega for comigo

Para morar no sertão

Lhe darei um lindo abrigo

Bem distante de perigo

E aluguel de barracão.

 

Pois lá tem um sanfoneiro

Que gosta mesmo de tocar

E um caboclo brejeiro

Que toca pandeiro

Até o sol raiar.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

GALO DURO

Autor: Graciliano Ramos

O galo está duro.

Mas tenho o que comer.

Sem nenhum perigo,

Me caso contigo,

Meu bem, mesmo sem poder.

 

E Deus dá o jeito

Pra gente viver!

 

Já falei com seu vigário,

Terno precisa não.

Montado na égua manca

Eu vou de camisa branca

E você com vestido de algodão,

 

Pois tudo é muito simples

No meio deste sertão.

 

Sua mãe dá a panela

E a minha dá o feijão.

Quando cair o anoitecer,

Somente para você

Vou tocar meu violão.

 

E a felicidade vai morar

Dentro do seu coração.

 

Bolo só de macaxeira,

Bebida tem alcatrão.

Ainda tem água no poço,

Já escuto o alvoroço

Das aves de arribação.

 

Sanfoneiro, puxa o fole,

Arrasta o pé no salão!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CANTANDO A ILHA MOQUEIO

 

Autor: Graciliano Ramos

Na Ilha do Moqueio

Eu quero te moquear

Rolando no teu seio

Em um belo passeio

Noite brisa beira-mar.

 

Na Baía-do-Sol

Eu quero te moquear

Na Ponta do Farol

Olhando o arrebol

Não me canso de te amar.

 

Lá em Carananduba

Eu quero te moquear

Minha deusa maluca

Deixa o meu na tua cumbuca

Antes de me levantar.

 

Na Praça da Matriz

Eu quero te moquear

Você é quem me diz

Que me faz tanto feliz

Na hora de me abraçar.

Na Estação Primeira

Eu quero te moquear

Não tem segunda nem terceira

Moça da rua da beira

À noite eu vou te buscar.

 

Nos Piratas da Ilha

Eu quero te moquear

Seguindo tua trilha

O teu beijo tem pastilha

De hortelã pra me adoçar.

 

Nos Peles-Vermelha

Eu quero te moquear

Teu bumbum cor-de-telha

Teu olhar de abelha

Quando avista um pomar.

 

Eu quero te moquear

Com todo o meu calor

Respirando este teu ar

No galope à beira-mar

Te envolvendo de amor.