Eu te enrosco como um cipó que abraça
Me envolvendo neste corpo gentil
Um cão que rosna farejando sua caça
Um tucano fugitivo da fumaça
Sobrevoando este pedaço de Brasil.
Quando escuto este teu suave canto
E o chiado dos teus passos neste chão
O teu perfume seca o rio do meu pranto
A tua voz me desperta deste encanto
O teu sorriso afugenta a solidão.
Tu te embrenhas por esta noite calada
E a mim surges sem medo da escuridão
A mãe da lua canta para a madrugada
Chegas sorrindo como a flor desabrochada
E me estremeces com essa febre de paixão.
Minha morena no seio da mata virgem
Eu te espero no pé de taperebá
As retinas dos teus olhos me atingem
E teus cabelos negros de fuligem
Cachos de açaí onde canta o sabiá.
Mas me entristeces quando finda a madrugada
Fico pensando quando voltarás aqui
Desapareces na curva da longa estrada
A minha mente fica toda embaraçada
E amanheço com o cantar do bem-te-vi.
Açaizeiros (FOTO: Wanzeller, 2010).
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