Autor: Graciliano Ramos
Botou o pé na estrada
Sua mãe lhe abençoou
Nesta longa caminhada
Com saudade da terra amada
Outro rumo ele tomou.
A viola no pescoço
O chapéu de barbicacho
Ele ainda muito moço
Curtindo o alvoroço
Do sertão de cabra macho.
Naquele seco sertão
O sol a pino escaldante
A poeira cobria o chão
Porém não foi tão em vão
O destino do viajante.
Uma cabaça com água
Um pedaço de rapadura
Os olhos rasos d’água
O coração cheio de mágoa
Segue em busca de aventura.
No meio da caatinga
Ouve o chocalho da cascavel
Olha a bica que nem pinga
Vê as pegadas na tabatinga
De um cavalo a tropel.
A tarde indo embora
Ao canto da acauã
O medo do caipora
Ele conta cada hora
À espera do amanhã.
Tão distante o galo canta
Ele marca a direção
De repente se levanta
Pés no chão se adianta
Como um faminto cão.
Prossegue o retirante
A sua vista não falha
Da tiririca cortante
Ele vê tão distante
Uma casa de palha.
A moça levanta e para
Traz no semblante o sentimento
Seu marido lhe deixara
O viajante vê em sua cara
As marcas do sofrimento.
Ela a roupa enxágua
Deixando a gamela no chão
Vai ao pote tirar água
Esquecendo a sua mágoa
E lhe oferece com satisfação.
E viveram felizes para sempre!
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