quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O RETIRANTE

 

Autor: Graciliano Ramos

Botou o pé na estrada

Sua mãe lhe abençoou

Nesta longa caminhada

Com saudade da terra amada

Outro rumo ele tomou.

 

A viola no pescoço

O chapéu de barbicacho

Ele ainda muito moço

Curtindo o alvoroço

Do sertão de cabra macho.

 

Naquele seco sertão

O sol a pino escaldante

A poeira cobria o chão

Porém não foi tão em vão

O destino do viajante.

 

Uma cabaça com água

Um pedaço de rapadura

Os olhos rasos d’água

O coração cheio de mágoa

Segue em busca de aventura.

 

No meio da caatinga

Ouve o chocalho da cascavel

Olha a bica que nem pinga

Vê as pegadas na tabatinga

De um cavalo a tropel.

 

A tarde indo embora

Ao canto da acauã

O medo do caipora

Ele conta cada hora

À espera do amanhã.

 

Tão distante o galo canta

Ele marca a direção

De repente se levanta

Pés no chão se adianta

Como um faminto cão.

 

Prossegue o retirante

A sua vista não falha

Da tiririca cortante

Ele vê tão distante

Uma casa de palha.

 

A moça levanta e para

Traz no semblante o sentimento

Seu marido lhe deixara

O viajante vê em sua cara

As marcas do sofrimento.

 

Ela a roupa enxágua

Deixando a gamela no chão

Vai ao pote tirar água

Esquecendo a sua mágoa

E lhe oferece com satisfação.

 

E viveram felizes para sempre!

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