Autor: Graciliano Ramos
O sol adentro invadiu pela janela
Ouvi o triste som do sino da capela
O violeiro entoou sua Aquarela
O velho Chico desenrola a vela
A Margarida passa mais bela
O vento forte sacudiu a saia dela.
A saracura canta no igarapé
Tapioqueiro vem gritando a pé
Vou comprar pão na baiuca do seu Zé
Seu prefeito abre a janela do chalé
Vi a fumaça saindo da chaminé
Por onde passo sinto cheiro de café.
Ouvi o padre rezando Ave Maria
Da janela tomei bênção da titia
É maré alta, é maré baixa, é maresia
Este veleiro já é minha moradia
O pescador faz a hora, faz o dia
O vento norte é que me leva pra Vigia.
O carimbó na eletrola
Tocando uma velha viola
O cego pede esmola
O aluno passa pra escola
Chutando uma bola
Que no mangue se atola.
Nessa manhã que encanta
O galo que canta
Para o Sol que aponta
O Chico se espanta
E Maria se levanta
Ainda um pouco tonta.
Rompeu a aurora
Já está na hora
A criança chora
O barco lá fora
O Chico implora
Maria não vá embora!
É dia, é hora!
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